Norman Arruda Filho
A educação de líderes na conquista da ética social
Atualizado: 28 de mar. de 2018
Do descuido das ações sociais, da falta de responsabilidade do mercado financeiro, mas, principalmente, da falta de princípios entre líderes é que assolou a crise mundial, no ano de 2008. Após esse marco, executivos de todo o mundo passaram a se preocupar mais com a gestão de riscos e com a transparência em suas ações.
Podemos dizer que até a crise dávamos mais importância ao lucro e as conquistas imediatas e, atualmente, tomamos mais consciência de que o sucesso empresarial está relacionado ao equilíbrio das questões de governança com princípios éticos, sociais, ambientais e também econômicos. Com a integração do meio corporativo à cadeia de valores, não é mais possível não ter em conta esse equilíbrio; isso impede a manutenção da empresa no mercado.
As organizações devem buscar o lucro e resultados, devem ter competitividade, gerar renda, emprego, estabilidade, isso move a sociedade e a mantem, mas a ascensão de uma empresa está relacionada à sua capacidade de gerar receita e juntamente gerir com responsabilidade social. As organizações não vivem para si próprias, mas são meios, são órgãos da sociedade que visam uma tarefa social (Druker).
Enquanto houver a busca pelo bem imediato e próprio nas empresas o desenvolvimento do setor privado não acontecerá. Quando a governança se sentir parte da comunidade será, realmente, alcançado o desenvolvimento sustentável. A relação entre fornecedores, clientes e a sociedade no geral deve estar pautada no ganha-ganha. Não existe o sucesso de uma organização com a crença só no bem individual, isso pode levar à corrupção.
A corrupção não acontece somente nas atividades da gestão pública, está presente em nosso cotidiano. Fazer uso de recursos e políticas indevidas compromete o conjunto de gestão sustentável de todos os setores sociais. As atitudes corruptas afetam a iniciativa privada por meio da baixa competitividade dentro do mercado e estão baseadas unicamente nos valores individuais.
No segundo setor, algumas organizações acabam “sujando-se” e forçam a outras a caírem no mesmo poço de lama para garantirem sua sobrevivência. A burocracia no país também leva a isso, faz com que as atividades ilegais sejam as vias mais rápidas para de se obter lucro, mas esse é um pensamento a curto prazo, no qual não devemos cair.
O controle anticorrupção deixa a desejar no Brasil, todavia, nos últimos anos, movimentos relacionados ao combate da corrupção têm surgido no suporte ao controle da negligência do setor privado, sendo uma via forte de responsabilidade social corporativa. O Pacto Global, da ONU, em um dos seus princípios universais ressalta que as empresas devem combater as ações corruptas. E com a persistência da crise, aumentou-se a busca pelas medidas do Pacto, porém ainda falta que a participação de líderes seja mais ativa e que mais empresas sejam fieis ao programa.
É imprescindível que o setor privado reconheça o seu poder no controle da corrupção e que, ainda mais, os líderes empresariais sejam protagonistas, garantindo as boas práticas comerciais, baseando-se na ética e governança responsável. Só a união do setor direcionará a transformação desse quadro. Cabe às organizações, por sua força, partirem para a autogestão de controle da corrupção na sociedade.
Para que isso aconteça, entidades empresariais e os próprios empresários precisam levantar a bandeira da ética nos negócios e fomentar agendas de discussões sobre o assunto de maneira aberta. Isso só é possível por meio de líderes conscientes, responsáveis e com referência. Líderes confiantes, com valores e aptos a serem agentes e fazerem a diferença nesse cenário, para transformação e influência de outros setores sociais. E nesse ponto a educação executiva é a via para a inovação e conquista de valores.
O processo de educação é permanente, por sua constante evolução, é possível que esse conhecimento seja modificado e influencie o ciclo em sua volta. Por meio de uma visão transversal dos desafios da liderança, via um sistema alternativo de formação, no qual desperte a consciência do todo, importância do desenvolvimento pessoal e participação cidadã, é possível agregar valores de bem comum nas posições de decisão institucional. É voltado para esse público que vejo a alternativa de conscientização e novas posturas éticas.
Na matéria publicada no mês de agosto, no jornal New York Times, foi ressaltado por representantes de escolas de negócio de todo o mundo que os estudantes e empregadores passaram a exigir que as instituiçoes acadêmicas prestassem mais atenção com a responsabilidade social e ética de longo prazo. No ISAE/FGV, há mais de 10 anos o programa “Perspectivação” foi introduzido ao currículo dos executivos como um modelo educacional fora das métricas clássicas de formação. Como ele, formamos líderes responsáveis e atentos à prática de valores, por meio de vivências, dispostos a promover a autoeducação, a liberação de paradigmas antiéticos e a recuperação do respeito mutuo. Dessa maneira, deixam de ser sujeitos passivos e passam a ser agentes transformadores do seu próprio entorno.
As experiências fora do ambiente acadêmico, em conjunto com a teoria, firmam a formação holística que um gestor deve ter; honestidade, igualdade, respeito, flexibilidade, solidariedade entre outros, são valores que podem ser conquistados por experiências de vida e elas ficam marcadas e influenciam à tomada de decisão.